As dietas restritivas e o silenciar do corpo: por que a narrativa do corpo ideal é tão atrativa? Como subverter esse tipo de narrativa do padrão?
Visitar guarda-roupas e conversar sobre imagem e estilo, sempre é tocar nas questões dos padrões de beleza que devido às narrativas da mídia e da construção da ditadura da beleza, vem consolidando há tempos a ideia do corpo ideal.
Somos vítimas desse tipo de narrativa normativa. Cotidianamente consumimos notícias sobre pessoas públicas que passam por regimes e restrições alimentares em prol de atingir um objetivo de corpo e imagem. Será que esses corpos realmente precisam se encaixar a um padrão para serem mais saudáveis? Mais bonitos? Mais aceitáveis socialmente? Por que?
Gabi Martins, cantora e participante do BBB 20, contou em entrevista ao G1 que na experiência do confinamento, por conta da ansiedade e da desmotivação para praticar atividades físicas na casa, “ganhou” nove quilos.
Após ter sido eliminada, Gabi, iniciou uma dieta com restrição de carboidrato para voltar ao seu peso “normal”. Enquanto lia a notícia comecei pensar quais são os parâmetros que seguimos para criarmos essa noção de corpo ideal? E como reverter essa lógica tão prejudicial para nossa autoestima?
Diante da quarentena, devido à pandemia da COVID-19, estamos passando por uma experiência de confinamento similar a proposta do Big Brother Brasil. Em meio a tantas mudanças, necessidade de adaptação, a redução das atividades físicas e as alterações drásticas na rotina, nosso corpo sente.
Num confinamento estamos lidando com diversos fatores inéditos: temos tempo para fazermos aquilo que queremos fazer, mas nem sempre estamos com o emocional preparado para enfrentarmos a situação.
O “ganho” de quilos relatado por Gabi é comum entre as participantes de edições anteriores do programa e tem sido recorrente entre os comentários sobre os impactos da quarentena.
Ao longo da quarentena você percebeu que não é só o “tempo livre” que você precisa para se manter motivada e com energia para “comer direito” e “treinar”? Por aqui aconteceu a mesma coisa. O confinamento produz efeitos sobre o corpo, e querendo ou não passamos a conhecer melhor como ele corresponde aos estímulos e como a produção de hormônios -ou a falta dela- impacta nas pequenas decisões, como o que comer no lanche da tarde e se vai participar da próxima live de treino da academia.
Será que quando há uma oportunidade do corpo “se libertar” de dietas restritivas e da cobrança excessiva por resultados através da carga pesada de atividades físicas, ele passa a ser como deveria ser “normalmente”? Será que estamos nadando contra a maré em busca de atingir um corpo ideal que não é ideal para nosso corpo? Quais são os sinais que ele emite quando você dá uma pausa?
A narrativa do corpo ideal é sustentada por uma série de regras restritivas, que enquadram corpos e medidas como algo matemático, universal. Encaixotando padrões e nos vendendo como um objeto de desejo. Se engordamos alguns quilinhos a mais, o mundo diz que algo está errado, a influencer mostra uma série de dietas lunáticas, os portais de saúde física trazem corpos destoantes do que é visto pelas ruas, do que é visto no espelho. E isso causa falta de identificação, nos fragilizando e criando um ambiente favorável para que a ditadura da beleza fale mais alto.
Neste momento de distanciamento social estamos com a oportunidade de reavaliar hábitos. Estamos indo mais para a cozinha, cozinhando a nossa própria comida, atentas aquilo que consumimos, aquilo que nutre não só o corpo mas também a alma, e, portanto, o que nos faz feliz.
Sem apologias ao exagero, mas propondo um olhar consciente para dentro: permita-se perceber como você se sente “livre” enquanto está “presa”, passando por este período de distanciamento social.
E se, por um momento, silenciarmos os argumentos em prol desse corpo ideal que é fruto de restrições sem fundamentos? E se enxergarmos e ouvirmos nossos corpos, tornando-os nossa principal referência sobre bem-estar e saúde?
Estar bem consigo mesma requer este exercício. Imagem é muito mais do que o padrão de corpo ideal estabelecido pela mídia. Sua imagem é a transmissão coerente e livre daquilo que você é: de corpo e alma.
Em meio a tantos estímulos para silenciarmos nosso organismo e seguirmos uma norma a fim de sermos mais aceitas, mais bem vistas, te faço um convite: enxergue a beleza que há em ser você, permita-se conhecer cada detalhe daquilo que seu corpo clama.
Transformando sua relação com seu corpo, você transformará sua relação com o mundo ao seu redor. Que as pequenas mudanças de paradigmas e valores possam ser sementes para a aceitação e o autoamor, terreno propício para florescer.
Florescemos unidas e com nossos corpos livres?