Quando uma mulher tão jovem influencia milhões de pessoas em todo o mundo não tem como não prestar atenção. Marie Kondo tem apenas 34 anos, é autora do livro “A mágica da arrumação”, que já vendeu mais de 8 milhões de cópias em todo o mundo, e está agora fazendo sucesso estrelando uma série na Netflix.
Um fenômeno!
Por trás dela uma mensagem muito significativa: o minimalismo. Em uma sociedade cada vez mais capitalista e acumuladora, refletir sobre a necessidade de cada objeto que temos em casa pode transformar a nossa relação com eles.
Não conheço profundamente o método, comecei a ler o livro, não finalizei. No entanto, conheço bem sobre estilo de vida e estilo pessoal, e, ao assistir alguns episódios da série, comecei a questionar algumas etapas do método de organização criado por ela.
O que te provoca alegria é o que o seu guarda-roupa precisa?
Começo minhas considerações pelas roupas, afinal, essa área faz parte dos meus conhecimentos e experiência prática que adquiri revitalizando o armário de centenas de mulheres.
Tenho minhas dúvidas se o critério proposto pela Marie para a seleção dos objetos se encaixaria também na seleção das peças do guarda-roupas. Definir o que fica e o que sai apenas pela sensação de alegria que aquela roupa te causa é um grande risco. Para de fato construir um estilo de vida minimalista, é preciso considerar peças que funcionem no seu dia a dia, que combinem entre si, que sejam versáteis.
Esta é uma seleção que, ao invés de ser baseada na emoção, deve ser baseada em estratégia. É com estratégia que fazemos uma única blusa render pelo menos 3 ou 4 looks, otimizando verdadeiramente o espaço no seu guarda-roupas, gerando economia e atendendo às necessidades da sua rotina.
Ao desconsiderar esses fatores, e fazer escolhas pela alegria que a peça te proporciona, você corre o risco de ter no seu armário 20 casacos, ou 15 calças estampadas, que te trazem alegria mas que não combinam com a maioria das outras peças, gerando poucas possibilidades. Resultado: ou você vai demorar muito tempo para se vestir pela falta de opção ou vai acabar precisando comprar mais num futuro próximo.
Você está preparado para o choque?
Também preciso considerar a angústia que senti na empatia pelo desespero de uma das personagens da série. Ela tinha muitas, muitas peças no armário. Eram tantas que a pilha amontoada em cima da cama chegava até o teto, literalmente. No método proposto por Marie a arrumação é feita por categorias. Então, quando chega o momento das roupas, tudo que existe nessa categoria na casa deve ser tirado do armário e colocado em cima da cama. Entendo a intenção de provocar impacto e gerar a transformação a partir do choque, mas sinto que a auto culpa e a angústia provocada nesse momento trazem sentimentos negativos para um processo que poderia ser vivido com base no que o próprio método divulga: a alegria.
Você encara sozinha a tarefa?
Também precisamos considerar o tempo. Cada uma das peças deve ser olhada individualmente: “Isso me traz alegria?”, se sim, fica no armário, e se não traz, você agradece a coloca na pilha de doação. Quanto tempo você demoraria para fazer isso com as peças que tem acumuladas hoje na sua casa? Essa personagem deste episódio que comento aqui demorou um mês. Um intenso mês de sofrimento e sensação de fracasso. Desespero.
E isso me leva a uma terceira consideração: a ausência de acompanhamento da própria Marie Kondo para auxiliar em cada fase. É claro que ela não precisa fazer tudo e que o cliente deve estar envolvido com o processo para que a mudança possa ser incorporada na sua rotina. Mas, fazer sozinho algo que você nunca fez, sem as ferramentas e estratégias que um profissional possui, me parece desperdício de habilidades.
Tudo tem um lado positivo
É claro que existem muitos pontos positivos. E para essa série eu considero que o maior deles está na reflexão sobre gênero e atividades domésticas. De quem costuma ser a maior responsabilidade pela arrumação da casa? Muitas e muitas vezes tem sido mostrado que é da mulher. E isso não faz muito sentido. Na maioria dos lares atuais, mulheres possuem vida profissional tão ativa quanto dos homens.
Dupla, tripla jornada: filhos, casa, trabalho. Ser responsável por absolutamente todo o cuidado com a casa traz uma sobrecarga mental que definitivamente não precisamos carregar. Que essa mensagem te convide para abrir mão do controle sobre a arrumação e para envolver mais o marido e as crianças nessa tarefa.
Por Amanda Moré
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